Maria Yvelênia defende a Assistência Social como o maior instrumento de combate à desigualdade na 14ª Conferência Nacional do SUAS
A 14ª Conferência Nacional de Assistência Social terminou nesta terça-feira, 9 de dezembro, em Brasília, com um recado claro vindo da plenária final – o SUAS precisa ser fortalecido, financiado e protegido de retrocessos. Entre as vozes mais contundentes desse chamado está a da assistente Maria Yvelênia, que defendeu a Assistência Social como o principal instrumento de combate à desigualdade no Brasil — não como retórica, mas como diretriz de Estado.
O encerramento marcou não apenas a conclusão de quatro dias de debates intensos, mas a consolidação de uma agenda robusta, com propostas que miram financiamento permanente, valorização dos trabalhadores, proteção social qualificada e participação democrática. Em meio às disputas federativas, à subfinanciamento crônico e ao desafio contínuo de enfrentar a desigualdade estrutural brasileira, a Conferência deste ano assumiu tom político firme — e Maria Yvelênia foi um dos nomes que conduziu essa tensão crítica para o centro do debate.
Liderança que fala a partir dos territórios
Nordestina, moradora de Valparaíso de Goiás e referência nacional no trabalho voluntário com pessoas com deficiência pela Pestalozze Entorno, Maria Yvelênia, ex-secretária nacional de Assistência Social, fala de assistência social com legitimidade rara. Ela conhece o SUAS da ponta, da universidade, da gestão e da militância. Ao defender a Assistência Social como “a porta que não pode fechar”, ela recuperou a dimensão civilizatória da política pública:
“A Assistência Social é o SUS da proteção. É o Estado garantindo dignidade. Sem ela, a desigualdade vira destino.”
Sua fala repercutiu não apenas por seu conteúdo, mas pelo contexto. Após 20 anos de SUAS e 32 anos da LOAS, o país ainda enfrenta descontinuidade no financiamento, precarização de equipes, ataques à política e estigmas persistentes contra usuários e trabalhadores.
Encerramento marcado por crítica e mobilização
No encerramento, lideranças nacionais reforçaram que a Conferência não pode ser apenas um rito burocrático. Para Maria Yvelênia, o processo democrático que começa nas conferências municipais — muitas realizadas em Goiás com forte mobilização de trabalhadores e conselhos — só tem sentido se resultar em decisões políticas concretas.
Ela destacou a urgência de aprovar a PEC 383, que vincula percentual mínimo da Receita Corrente Líquida ao financiamento do SUAS. Para Yvelênia, enquanto a Assistência Social depender da instabilidade orçamentária e da “boa vontade” dos governos, o país nunca romperá o ciclo da desigualdade:
“Não existe combate à fome sem SUAS forte. Não existe proteção a mulheres, crianças, pessoas com deficiência ou população em situação de rua sem equipe, sem estrutura, sem investimento.”
Conferência encerra com propostas robustas e estratégicas
As plenárias finais aprovaram um conjunto de propostas que, se implementadas, alteram estruturalmente o futuro do SUAS. Entre os cinco eixos debatidos, destacam-se medidas para:
Eixo 1 — Territorialidade e serviços
- Expansão do SUAS considerando diversidades regionais (Amazônia, semiárido, fronteiras, comunidades tradicionais).
- Planos nacionais para emergências e calamidades.
- Inclusão da Assistência Social no PAC.
- Ampliar equipes de referência e unidades móveis.
- Garantia de transporte adequado para atuação em territórios isolados.
- Universalização da Proteção Social Básica e Especial.
Eixo 2 — Trabalhadores do SUAS
- Instituição da Política Nacional dos Trabalhadores do SUAS.
- Piso salarial nacional e mesa permanente de negociação.
- Jornada de 30h semanais.
- Revisão da Tipificação para expansão de CRAS, CREAS e equipes volantes.
- Valorização e proteção à saúde mental dos trabalhadores.
Eixo 3 — Benefícios e BPC
- Desburocratização do BPC e atendimento presencial no INSS.
- Revisão do critério de renda para ½ salário mínimo.
- Exclusão do Bolsa Família do cálculo de renda para acesso ao BPC.
- Revisão de decretos que alteraram regras sem participação do CNAS.
- Integração nacional dos sistemas do SUAS, CadÚnico, BPC e áreas sociais.
Eixo 4 — Controle Social e Democracia
- Reforço à estrutura dos Conselhos de Assistência Social.
- Democratização e ampliação das representações, sem exigência de CNPJ.
- Acesso digital, internet e comunicação acessível para participação efetiva.
- Plataforma nacional integrada e transparente sobre serviços e recursos.
Eixo 5 — Financiamento e Sustentabilidade
- Aprovação da PEC 383/2017 (1% da RCL para o SUAS).
- Destinação de parte dos recursos do pré-sal e do Fundo Amazônia para a Assistência Social.
- Retomada do IGD-SUAS e reajuste anual.
- Destinação mínima de 5% das emendas impositivas para o SUAS.
- Financiamento focado em equidade e reparação histórica.
Conferência aponta rumos, mas execução depende de decisão política
O conjunto das propostas aprovadas revela um consenso – sem financiamento estável e sem valorização dos profissionais, o SUAS corre risco de retrocesso. A Conferência deixou claro que a falta de recursos, aliada à ausência de coordenação nacional sólida, é hoje o maior obstáculo ao combate à desigualdade.
A fala de Maria Yvelênia sintetizou esse diagnóstico: o SUAS é um sistema potente, capilarizado e reconhecido pela população, mas sofre com subfinanciamento crônico e pressões políticas que tentam instrumentalizar a política social.
No encerramento, o clima entre delegados e delegadas era de mobilização, mas também de cobrança ao governo federal e ao Congresso. A Conferência produziu um mapa estratégico, mas sua implementação exigirá disputa política real.
Maria Yvelênia – técnica, política e humanidade
Ao longo do evento, seu nome se destacou por unir rigor técnico, leitura política e compromisso humanitário. Professora universitária, gestora pública respeitada, voluntária incansável e liderança que emergiu dos territórios periféricos do Entorno, Yvelênia representou na Conferência a síntese do que o SUAS pode ser: firmeza técnica, ética pública e cuidado com os mais vulneráveis.
Sua defesa da Assistência Social como maior instrumento de combate à desigualdade encontrou eco entre trabalhadores, usuários e gestores. Não por acaso: em um país que voltou ao mapa da fome e enfrenta desigualdades estruturais históricas, fortalecer o SUAS deixou de ser uma escolha — tornou-se necessidade civilizatória.
A 14ª Conferência Nacional de Assistência Social terminou, mas a disputa política apenas começou. A agenda construída, as propostas aprovadas e a força de vozes como a de Maria Yvelênia apontam para um mesmo caminho: consolidar o SUAS como política de Estado, com financiamento permanente, proteção qualificada e participação social viva.
Se o Brasil quer enfrentar a desigualdade de forma estruturante, será pela Assistência Social que isso passará. E essa, como enfatizou Yvelênia, é uma porta que o país não pode — e não deve — fechar.



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